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Em 2020 foram desperdiçados 183 Kg de comida por habitante português e a maior fração do desperdício alimentar, cerca de 70%, aconteceu nas casas das famílias, sendo este valor francamente superior à média europeia. É de salientar que apenas o desperdício de alimentos gera cerca 6% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Reduzir o desperdício alimentar significa evitar o desperdício de recursos (água, solo, energia, trabalho, dinheiro) em vão e diminuir a pegada ecológica, direcionamento os alimentos para o seu verdadeiro propósito e desviando o seu trajeto para os aterros sanitários.

Desperdício alimentar (t) por elos da cadeia de abastecimento alimentar.
Fonte: Instituto Nacional de Estatística, 2020

Podemos e devemos tomar medidas para reduzir e combater este flagelo, todos nós podemos agir, alterando a forma como compramos, cozinhamos e planeamos nossas refeições.

Salve comida, não a desperdice!

Como podemos reduzir o desperdício alimentar nas nossas casas?

Planifique as suas refeições de forma a fazer uma melhor gestão de alimentos e comprar apenas aquilo que vai necessitar, nas quantidades planeadas. Dê prioridade aos alimentos mais perecíveis ou próximos do fim de validade, optando por coloca-nos nas primeiras refeições da ementa.

Poderá planificar a sua ementa saudável e sustentável no nosso site, com o auxílio do nosso planeador de ementa e receitas. Após planificar a ementa, faça a sua lista de compras com as respetivas quantidades necessárias.

Nas compras:

  • Antes de ir às compras verifique sempre o que tem disponível no seu frigorífico, despensa e congelador, faça um levantamento prévio, e, se necessário, tire fotografias para não se esquecer.
  • Evitar ir às compras com fome, pois corre o risco de comprar alimentos que não necessitava e que não entram no seu planeamento.
  • Evite a compra impulsiva de alimentos em promoção, especialmente, alimentos em grandes quantidades, caso preveja que não vai dar vazão aos mesmos.
  • Para assegurar a frescura dos produtos e minimizar o desperdício, faça compras de alimentos frescos como os hortofrutícolas, de forma mais regular, sem fazer stock de produtos perecíveis. Sempre que possível, faça compras a granel de forma a comprar apenas a quantidade necessária e minimizar a utilização de embalagens.
  • Na compra de alimentos, tenha em consideração que deverá colocar os alimentos mais pesados no fundo do saco, cesto ou carrinho e os mais frágeis (hortícolas, ovos, fruta) no topo, garantindo a integridade dos mesmos.
  • Reserve para o final das compras a recolha dos alimentos refrigerados e congelados, optando por colocá-los em sacos isotérmicos. Caso algum alimento descongele no trajeto, opte por confecioná-lo de imediato e não voltar a congelar.
  • Compre produtos com prazo em aproximação de fim de validade caso consiga dar vazão aos alimentos, dando prioridade ao seu consumo.
  • Compre a fruta e hortícolas “imperfeitos”, ou seja, que aqueles não se enquadram nos padrões de comercialização por possuírem menor calibre ou formato ou cor atípica, as bananas “soltas” (que não estão no cacho), os hortícolas tortos ou partidos (como as cenouras), pois são igualmente adequados e seguros para consumo. Muitas vezes, o escoamento destas frutas e hortícolas para a indústria alimentar não representa uma solução economicamente viável para o agricultor, o que poderá levar ao desperdício alimentar.

O correto armazenamento dos alimentos é fulcral para a preservação dos mesmos evitando o seu desperdício.

Certifique-se na despensa ou no frigorífico os produtos com prazo de validade mais curto ficam à frente para serem consumidos primeiro e, no caso dos produtos frescos, opte por aplicar a regra “primeiro a entrar, primeiro a sair”.

Organize o seu frigorífico deixando os alimentos prontos para consumo, como sobras na prateleira de cima e carnes e peixes crus embalados na prateleira de baixo para evitar que derramem líquidos para outros alimentos. Reserve a gaveta inferior do frigorífico para as frutas e hortícolas, em separado, estando atento à humidade das gavetas para que se mantenham secas.

Evite ter o seu frigorífico demasiado cheio, pois não vai permitir circular o ar e vai dificultar a manutenção da temperatura adequada.

Verifique regularmente a temperatura do seu frigorífico, que deverá encontrar-se entre 0ºC e os 5ºC e a temperatura do congelador, que deverá rondar os -18ºC.

Respeite o modo de conservação indicado nos rótulos dos alimentos.
Não tem certeza como deve conservar o alimento? Confira o modo de conservação no separador alimentos frescos e locais (hortícolas, fruta e pescado)

Não confunda a data-limite de consumo com data de durabilidade mínima.

A data de validade com a menção “consumir até” diz respeito à segurança microbiológica do produto. Esta designação é geralmente encontrada em alimentos perecíveis, como a carne, os laticínios e refeições prontas. Nestes casos, mesmo que o alimento tenha bom aspeto, após passar a data de validade, não deve ser consumido. Para evitar o desperdício deste grupo de alimentos, estes devem ser adquiridos nas quantidades necessárias e sem fazer stock ou optar por congelar estes alimentos.

A data de validade com a referência “consumir de preferência antes de” ou “consumir de preferência antes do fim de” é referente à qualidade do produto e é a data até à qual o alimento conserva as suas propriedades específicas. Após esta data, os alimentos podem ser consumidos com segurança, desde que as condições de conservação tenham sido mantidas, embora sua qualidade possa ter diminuído (alterações no sabor, cor, textura). Antes de desperdiçar estes alimentos, confie nos seus sentidos para avaliar se o seu sabor e aroma são semelhantes ao habitual.

Verifique regularmente o que tem disponível no frigorífico, congelador e na despensa e use os alimentos mais perecíveis ou que estão próximos de terminar o prazo de validade.

Preveja refeições semanais para utilização de sobras, como os empadões, massas, quiches, lasanhas, sandes e arrozes de forno. Seja criativo, crie as suas próprias receitas “limpa frigoríficos” e atribua nomes apelativos. Assim, poderá desfrutar de uma nova receita e evitar desperdiçar comida em bom estado.

Congele os alimentos antes destes estragarem-se. Alguns exemplos:

  • Frutas muito maduras congeladas podem ser uma boa opção para colocar em batidos e fazer gelados de fruta;
  • Os talos e cascas de hortícolas, após higienização, podem ser congelados num saco hermético, e quando acumular uma quantidade suficiente, faça um caldo de legumes;
  • O pão pode ser congelado e descongelado de um dia para o outro ou diretamente na sua torradeira;
  • Congelar ovos inteiros, optando por misturar bem a clara e a gema, e, posteriormente utilizá-los para incorporarem uma receita;
  • Congele sobras de refeições que contenham molho na sua composição (empadão, estufados, lasanhas, caldeiradas, massadas…), desta forma não afetará a textura ou sabor dos mesmos. Opte por congelar em unidoses de forma a ter um melhor aproveitamento destas refeições e ser mais conveniente;
  • Pode ainda congelar leite em cuvetes de gelo e incorporá-lo posteriormente em receitas como batidos, bolos ou gelados caseiros de fruta madura.

Em qualquer uma das opções citadas deverá etiquetar o recipiente com a data de congelação do alimento, de forma a dar vazão aos produtos mais antigos em primeiro lugar.

Quando voltar a abastecer o congelador com produtos novos, coloque os congelados mais antigos para a frente para garantir, assim, a sua utilização dentro do prazo.

Se sobrou comida e ainda estiver segura, mas sabe que sozinho não vai conseguir dar vazão, partilhe:

Verifique se existem instituições de apoio alimentar nas suas redondezas, que aceitem doações e distribuam as mesmas para pessoas carenciadas;

Convide os vizinhos, família ou amigos para uma refeição e dessa forma promova também a convivialidade à mesa, caraterística da Dieta Mediterrânica.

Evite ter mais olhos que barriga, sirva-se de forma adequada ao seu apetite e gosto. Aqui estão algumas práticas simples que ajudam:

Sirva pequenas porções de cada vez e, se necessário, repita a porção, em vez de servir-se em demasia e sobrarem restos que terão de ser desperdiçados.

Use pratos de menores dimensões para servir a comida, evitando dessa forma servir-se em demasiada e fazer um consumo alimentar mais regrado.

Quanto fizer refeições fora de casa, se sobrar comida, peça para levar consigo as sobras, não há motivo para vergonha. Poderá levar consigo um recipiente reutilizável para transportar a comida e evitar utilizar embalagens de uso único.

Caso apareça bolor nos seus alimentos, a decisão de comer ou descartar deverá basear-se nas seguintes regras gerais:

Alimentos de consistência dura e de baixa humidade são seguros para consumo assim que a área ao redor do bolor for removida (retire 2,5cm em torno do bolor), pois, neste caso, por norma o bolor não consegue penetrar o alimento, não constituindo um problema. Nesta categoria incluem-se queijos duros, carnes processadas duras (salame, presunto) e frutas e hortícolas e tubérculos mais firmes (repolho, pimento, cenoura, batatas). Tenha o cuidado de não utilizar a faca que usou para remover o bolor no restante alimento, de forma a evitar a sua contaminação. Após retirar o bolor do alimento, embrulhe-o e armazene-o corretamente.

Alimentos tenros e de elevada humidade devem ser desperdiçados quando começarem a ganhar bolor, pois constituem perigo para a saúde. Esses alimentos incluem sobras de comida cozinhadas, leguminosas cozinhadas, queijos macios, iogurtes e outras sobremesas lácteas, pão, bolos, compotas e frutas e hortícolas macios (pepinos, pêssegos, tomates, frutos vermelhos). Nestes casos, o bolor consegue penetrar o alimento macio, mesmo que não seja visível.

Tente reaproveitar os resíduos de alimentos e alimentos antes que eles sejam desperdiçados.

Deixámos-lhe algumas sugestões:

  • Aproveite a fruta muito madura para adoçar papas, bolos, panquecas ou fazer purés de fruta caseiros;
  • Se sobrou pão, faça pão ralado ou croutons ou utilize-o numa açorda, migas ou sobremesa (pudim de pão, formigos);
  • Aproveite as cascas de cebola/alho/cenoura, os talos de brócolos/espinafres ou de ervas aromáticas como a salsa/coentros, a parte verde de alho francês, as folhas de aipo para fazer caldos aromáticos e diminuir a adição de sal dos seus cozinhados;
  • Faça chips de casca de batata/batata-doce/maçã no forno e terá facilmente um aperitivo saudável. Verifique as nossas receitas;
  • Aproveite as cascas de laranja, limão, maçã, ananás entre outros frutos para fazer infusões;
  • Utilize as ramas de cenoura ou talos de coentros/salsa para fazer um molho “pesto”;
  • As folhas de beterraba, rabanetes e nabo podem ser consumidas cozinhadas e em conjunto com alimentos mais adocicados (batata-doce, cenoura, abóbora) para reduzir o seu sabor amargo;
  • Corte o talo dos brócolos finamente e cozinhe-o salteado ou assado no forno. Poderá ainda aproveitá-lo para colocá-lo na base de uma sopa;
  • As sementes de abóbora, melancia e melão podem ser lavadas e torradas ligeiramente no forno para posterior consumo como aperitivo simples ou em adição ao iogurte natural;
  • Com sobras de hortícolas faça hambúrgueres vegetarianos, bastará triturá-los, juntar feijão, grão ou lentilhas e um pouco de farinha, fazer pequenos hambúrgueres, cozinhados no forno ou numa frigideira antiaderente;
  • Faça os seus cubos de caldos concentrados caseiros, juntando as sobras de ervas aromáticas picadas e azeite coloque-as cuvetes de fazer de gelo e leve ao congelador;
  • As sobras de carne e pescado podem servir para fazer empadão, lasanha, salada, empadas, pasteis, quiches, sandes, espetadas, tartes e até para rechear pimentos, tomates beringelas ou curgetes.

Monitorize o desperdício alimentar da sua família através de um registo diário de desperdício alimentar. Após isso, analise-o e pense maneiras criativas para minimizar o desperdício de comida.

 

Existe atualmente uma panóplia grande de aplicações e iniciativas que permitem salvar comida de restaurantes e lojas que, de outra forma, seriam desperdiçados.

Para o que não pode ser guardado, a compostagem é uma opção. A deposição dos resíduos em aterros gera emissões fugitivas significativas de gás metano, que tem efeito de estufa muito superior ao do dióxido de carbono. Isto acontece derivado da digestão anaeróbia do desperdício alimentar pelas bactérias presentes nos aterros. Até aterros com as melhores tecnologias de alta recuperação de têm fugas de metano.
Na União Europeia, um quarto das emissões de metano produzidas pelo homem provém de resíduos, e muitos aterros sanitários não estão devidamente equipados para capturar o gás.

Embora a compostagem de alimentos não solucione o problema do desperdício alimentar em si, ajudará a reduzir o impacto ambiental ao reaproveitar os resíduos num composto que servirá tornar os solos mais férteis.

A compostagem comunitária para alimentos são um passo na direção certa.

Ritchie, A. (2020, março 18). Food waste is responsible for 6% of global greenhouse gas emissions. [Website]. Disponível em: https://ourworldindata.org/food-waste-emissions

Instituto Nacional de Estatística. (2020). Estatísticas do Desperdício Alimentar. [Website]. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0011470&contexto=bd&selTab=tab2

EUFIC. (2021). How to reduce food waste at home. [Website]. Disponível em https://www.eufic.org/en/food-safety/article/how-to-reduce-food-waste-at-home

FSIS. (2013). Molds on Food: Are They Dangerous? [Website]. Disponível em https://www.fsis.usda.gov/food-safety/safe-food-handling-and-preparation/food-safety-basics/molds-food-are-they-dangerous