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Factos

A produção alimentar acarreta custos ambientais em todas as etapas da cadeia alimentar, desde a produção agrícola, a transformação, o processamento, o transporte, o retalho, o embalamento e a gestão de resíduos, conduzindo à depleção de recursos naturais e à degradação ambiental.

Em Portugal, o fator que mais contribuí para a pegada ecológica das famílias é a alimentação (30%), seguido da mobilidade (20%) e da casa (10%).

Atualmente a produção de alimentos:

  1. Requer a utilização de grandes quantidades de água doce, cerca de 70% do total de água doce disponível, o que é particularmente impactante em regiões de seca. Adicionalmente, a utilização excessiva de herbicidas e pesticidas poluí as águas dos rios, lagos e oceanos.
  2. É responsável por uma grande fração das emissões mundiais de gases de efeito estufa, cerca de 20-35% e, consequentemente, é responsável pelo agravamento das alterações climáticas.
  3. Requer a utilização de terra, sendo que a agricultura ocupa cerca de metade da terra habitável do mundo.
  4. É um grande impulsionador da conversão de terras, desflorestação e de perda da biodiversidade na utilização de terras agrícolas.

A população mundial está a crescer e garantir que todos têm acesso a uma dieta saudável e sustentável é um dos maiores desafios da atualidade.

Considerando o impacto ambiental prejudicial do nosso modo de consumo atual e as preocupações levantadas sobre sua sustentabilidade, há uma necessidade urgente de transitar para dietas saudáveis ​​e com baixo impacto ambiental.

Segundo a FAO, uma dieta saudável e sustentável constitui um padrão alimentar que promove todas as dimensões da saúde dos indivíduos e o seu bem-estar, que têm baixo impacto ambiental, que é acessível, barata, segura, equitativa e culturalmente aceite.

Enquanto consumidores, as nossas escolhas alimentares têm o potencial de induzir a transição para sistemas alimentares mais resilientes e sustentáveis.

Para saber como pode tornar a sua alimentação saudável e com menor pegada ambiental, explore o nosso site, as nossas receitas e dicas.

Princípios para a Alimentação Saudável e Sustentável

Dentro do mesmo grupo de alimentos, varie os alimentos – a falta de variedade no consumo pressiona os recursos naturais a nível da agricultura e pecuária, provocando a perda de biodiversidade. Menos biodiversidade significa que plantas e animais são mais vulneráveis ​​a pragas e doenças. Agravada pela nossa dependência alimentar de cada vez menos espécies, a crescente perda de biodiversidade coloca em risco a segurança alimentar e a nossa nutrição.

Promover a diversidade alimentar ajudará na preservação da biodiversidade e na valorização das espécies endógenas, um aspeto muito relevante para a sustentabilidade alimentar. Procure conhecer as espécies animais e vegetais locais conversando diretamente com os produtores agrícolas, visitando as suas explorações e mostrando interesse no conhecimento e no consumo de espécies locais.

Um alimento local é definido como aquele que é produzido e consumido dentro de limites geográficos de proximidade. A definição da distância máxima percorrida por um alimento local ainda não é consensual na literatura. Todavia, para facilitar, poderá eleger uma hierarquia de prioridades, privilegiando os produtos a nível regional e, posteriormente, a nível nacional, e por fim, a nível europeu e mundial.

Sempre que esteja ao seu alcance, consuma produtos locais. Para tal, procure privilegiar a compra de alimentos de cadeias curtas de abastecimento. Estas cadeias de abastecimento alimentar providenciam alimentos que são transportados do produtor para o consumidor final com a existência de, no máximo, um intermediário. Geralmente, estas cadeias curtas acontecem nas mercearias, feiras locais, mercados municipais ou na compra cabazes de hortofrutícolas locais (ex.: projeto PROVE).

No que concerne aos alimentos sazonais, estes são definidos como alimentos que são produzidos ao ar livre, na sua estação natural de crescimento, sem elevados gastos de energia para modificar o clima ou para o seu armazenamento. Muitas vezes, os produtos fora de época são cultivados em estufas ou importados de outros países, o que aumenta a pegada ecológica destes produtos.

Por norma, alimentos locais e sazonais são:

  • Alimentos mais saborosos, com maior qualidade e frescura.
  • Alimentos mais económicos, que impulsionam um comércio mais justo;
  • Promotores da economia local derivado do fomento da empregabilidade dos produtores locais;
  • Alimentos mais sustentáveis, pois tem menor utilização de embalagens, menor gasto energético na produção, processamento (menos cadeias de frio), conservação e logística climatizada e, geralmente com menores perdas decorrentes do transporte mais curto;
  • Espécies bem-adaptadas ao clima;
  • Promotores da preservação da identidade agrícola com valorização das variedades endógenas e da biodiversidade.

Todavia, salientamos que a sustentabilidade alimentar não “é preto no branco” e que, devemos fazer uma apreciação caso a caso, solo a solo, produto a produto.

Portugal é o país do mediterrânico com maior “pegada alimentar” per capita, isto deve-se, em boa parte, ao elevado consumo de proteínas animais (carne e pescado).

A carne e derivados são considerados alimentos de maior impacto ambiental. Em geral, produtos de origem animal requerem maior utilização de recursos naturais e causam maior emissão de gases com efeito de estufa em comparação com as alternativas de origem vegetal.

O gado, particularmente os animais ruminantes, como vacas e ovelhas, emitem grandes quantidades de metano, um potente gás com efeito estufa, proveniente dos seus sistemas digestivos.

Além disso, os animais são relativamente ineficientes na conversão de proteínas vegetais em proteínas animais, pois são necessárias grandes quantidades de ração animal para produzir quantidades relativamente pequenas de carne.

É ainda fundamental reduzir o consumo de carnes processadas (salsichas, hambúrgueres, enchidos…), pois requerem maior grau de processamento e, consequentemente maior impacto ambiental. Na perspetiva da saúde, estes alimentos apresentam baixo interesse nutricional, pois contêm níveis elevados de sal, gordura total e de gordura saturada e incluem na sua composição aditivos alimentares com potencial carcinogénico.

A carne de porco apresenta uma menor pegada ecológica quando comparada às carnes de animais ruminantes, sendo ligeiramente superior à pegada da carne de aves (frango e peru). Por sua vez, o consumo pescado e de ovos representa uma menor pegada ecológica comparativamente à consumo de carnes.

Apesar de todas as fontes proteicas anteriormente referenciadas terem um menor impacto ambiental quando comparadas à pegada ecológica de animais ruminantes, salienta-se ainda a necessidade de fazer um consumo modesto destes alimentos, ajustado às suas necessidades energéticas e proteicas. Sempre que possível, dê preferência às opções de menor impacto ambiental e com menor quantidade de gordura saturada, como o pescado (nacional e na época), os ovos as e carnes brancas, limitando consumo de carne vermelha 1-2x/semana, de preferência de produção local e de carnes processadas a menos de 1x/semana. Procure fazer uma redução gradual do consumo de carnes vermelhas, reduzindo a porção ou a frequência, irá beneficiar a sua saúde e reduzir francamente a sua pegada ecológica.

A preferência por raças de gado autóctone constitui uma vantagem na sustentabilidade alimentar, designadamente:

  • Bovinos de Raça Barrosã

Presente no Noroeste de Portugal desde tempos imemoriais, a raça Barrosã é o resultado de séculos de seleção e adaptação ao meio ambiente agreste das zonas de montanha. A carne que produz, possui  Denominação de Origem Protegida (DOP) “Carne Barrosã”.

A raça Barrosã é de primordial importância, para o meio rural, principalmente nas zonas de meia-encosta e de montanha, pois através da utilização de animais completamente adaptados ao meio envolvente, consegue-se ocupar e trabalhar as pequenas parcelas e socalcos, obter os fertilizantes naturais para adubação dos solos pobres e valorizar os parcos recursos alimentares disponíveis (carqueja e tojo), numa lógica de agricultura sustentável graças a um sistema de produção extensivo, que preserva a paisagem e o meio ambiente natural, fixando também alguma população e mantendo actividade económica e social através da valorização de um recurso endógeno.

  • Ovinos (Raças Bordaleira e Churra do Minho)

O sistema de exploração destas raças é caraterizado por rebanhos de pequena e média dimensão, inseridos em explorações agrícolas de montanha que aproveitam as grandes áreas de baldio da região

É usual encontrarem-se rebanhos mistos de ovinos e caprinos nas zonas mais altas de montanha, pois o pastoreio conjunto destas espécies permite uma maior rentabilização das pastagens pobres.

Os ovinos destas  raças, devido à sua rusticidade e capacidade de adaptação a diversos ecossistemas, servem de complemento a atividades agrícolas diversas, como a viticultura, bovinicultura, suinicultura, etc.

  • Aves (Raças de Galinhas, Preta, Amarela, Branca e Pedrês)

Estas raças autóctones de galinhas são muito valorizadas e apreciadas pela qualidade e delicadeza da sua carne, pela sua notável aptidão como poedeiras e chocadeiras e pela sobriedade e elegância das suas plumagens.

São criadas em regime extensivo em pequenas explorações familiares do território do Cávado, assim como toda a região Norte. Possuem elevada rusticidade e resistência, capacidade de adaptação ao meio e notável aptidão produtiva, reconhecida qualidade quer da carne quer dos ovos.

No que concerne aos lacticínios (leite, iogurte e queijo), modere o seu consumo, optando por não exceder as duas porções (adultos) a 3 porções (crianças) diárias. Dê preferência a lacticínios minimamente processados e de produção nacional e evite as sobremesas lácteas e processadas (ex.: gelados, pudim fla). Opte por comprar iogurtes de embalagem familiar (menor embalamento) e leve o seu recipiente para a compra de queijo na charcutaria de forma a reduzir a quantidade de resíduos.

Poderá ainda alternar com opções de origem vegetal não adoçadas (bebida ou alternativa ao iogurte de soja, amêndoa, aveia…), privilegiando as opções fortificadas em cálcio e não adoçadas. No entanto, ressalva-se que as alternativas vegetais aos lacticinios não se podem considerar alternativas diretas ao consumo de leite, sob o ponto de vista nutricional.

Os alimentos de origem vegetal como os hortícolas (hortaliças e legumes), a fruta, os cereais e derivados, os tubérculos, os frutos oleaginosos e as leguminosas são parte integrante de uma dieta saudável e sustentável. Estes alimentos, por norma, apresentam um menor impacto ambiental, especialmente quando consumidos em natureza, na sua época e de produção local.

Recomenda-se o consumo mínimo de 400g de hortícolas e frutas de forma diária, o que representa em média 5 porções de fruta e hortícolas. Para atingir esta recomendação, poderá optar por comer:

  • uma porção de fruta na merenda da manhã e na merenda da tarde;
  • uma porção de sopa de hortícolas;
  • uma porção de hortícolas crus ou cozinhados na refeição do almoço e jantar.

A redução do consumo de carne e a sua substituição parcial com alimentos fornecedores de proteínas de origem vegetal, como as leguminosas (grão-de-bico, feijão, ervilha, fava, lentilha, tremoço) e os frutos oleaginosos (nozes, amêndoas, avelãs), constituem passos muito importantes rumo ao consumo alimentar mais sustentável.

As leguminosas assumem um papel de destaque, dado serem fornecedoras de proteína vegetal (20% do seu peso seco em cru) e de elevado interesse nutricional, pois são boas fornecedoras de vitaminas do complexo B e de minerais, particularmente ricas em magnésio, cálcio, ferro, zinco e potássio. Estas plantas são consideradas “amigas do ambiente” pois têm a capacidade de tornarem os solos mais férteis e apresentam boa rentabilidade na utilização da água.

No grupo das leguminosas, incluem-se a ervilha, a fava, o feijão, o grão, a lentilha, o tremoço, a ervilha, o chícharo, a soja e derivados (tofu, tempeh). Os frutos oleaginosos incluem a amêndoa, o pinhão, a noz, a avelã, o amendoim, entre outros. Estes frutos, vulgarmente denominados por frutos secos, têm um elevado valor energético devido ao elevado teor de gordura, razão pela qual, o seu consumo deve ser modesto, não ultrapassando 1 punhado por dia (aproximadamente 30 g).

Uma das formas mais eficazes de reduzirmos a nossa pegada ecológica da alimentação, é através da redução do consumo habitual de carne e pescado e a sua substituição total ou parcial, por leguminosas e outras fontes de proteína vegetal (oleaginosas e sementes). A Roda dos Alimentos Mediterrânica recomenda um consumo diário de 1 a 2 porções de leguminosas, o que equivale a 3 a 6 colheres de sopa de leguminosas cozinhadas (80 g -160 g). Desta forma, poderá fazer a redução parcial das fontes proteicas de origem animal ou optar por incluir algumas vezes na sua ementa semanal refeições de base vegetal. Para tal, poderá optar por conjugar as leguminosas com cereais de forma a obter a complementaridade proteica, particularmente importante no caso refeições destinadas às crianças. No caso dos adultos, não precisam de garantir esta combinação, desde que ao longo do dia consumam uma ampla variedade de alimentos ricos em proteína vegetal e não necessariamente na mesma refeição.

Deixamos-lhe algumas sugestões de complementaridade proteica:

Feijão + Arroz
Grão-de-bico + Massa
Lentilhas + Wrap de trigo
Tremoço + Tostas de centeio

Importa referir a necessidade de adequação das dietas com redução do teor de proteínas de alto valor biológico, presentes na carne e o pescado, com a orientação de um nutricionista, no sentido de mitigar possíveis défices nutricionais a curto, médio e longo prazo.

O impacto ambiental dos alimentos difere consoante o seu processamento. O consumo de alimentos excessivamente processados (pães/bolos embalados, bolachas, gelados, chocolates, gomas e rebuçados, comidas pré-embaladas, entre outros…), alimentos que contêm muito sal, açúcar e gordura, de elevado valor calórico, implicam custos ambientais mais elevados.

Estes alimentos têm maiores gastos de recursos e energia derivado seu processamento, modo de conservação, tempo de conservação, embalagens, necessidade de acondicionamento no transporte e a distância de transporte.

O consumo de pescado tem elevado interesse nutricional, é uma boa fonte de proteína de alto valor biológico, rico em gordura ómega-3 e com baixo teor em gordura saturada. Portugal é o segundo país da União Europeia com o maior consumo anual per capita de pescado e atualmente, sabemos que 31% dos stocks mundiais de pescado estão sobreexplorados. Posto isto, devemos moderar as porções de pescado consumidas para limitar a sua sobreexploração e usufruir dos benefícios nutricionais.

Para ajudar o consumidor na hora da escolha de pescado, existem certificações que permitem identificar a proveniência e sustentabilidade do pescado. É o caso do Comprovativo de Compra em Lota (CCL) que permite identificar a zona de captura e a arte da pesca utilizada, assegura que a captura foi feita maioritariamente por embarcações nacionais na costa portuguesa, respeitou a sazonalidade e as quotas definidas para a espécie em questão.

Uma das formas de fazer um consumo mais sustentável de pescado passa pela diversificação das espécies consumidas, reduzindo a pressão sobre as espécies sobreexploradas. A dependência excessiva de espécies mais apreciadas (bacalhau, sardinha, atum) e a falta de diversidade de espécies na nossa alimentação têm tido um impacto ambiental prejudicial.

É de salientar a importância do consumo de pescado na sua época e com a dimensão mínima exigida, evitando comprar peixe muito pequeno.

O consumo alimentar excessivo acarreta maior impacto ambiental e conduz ao excesso de peso. A evicção de alimentos excessivamente processados permite um maior controlo de porções e um consumo mais adequado às necessidades energéticas. No geral, alimentos ultraprocessados (bolachas, doces, gelados, fast food) têm elevada palatabilidade e, facilmente, conduzem ao consumo exagerado e inadequado. Procure dar prioridade aos alimentos não processados ou minimamente processados e de mais baixa densidade calórica, como os hortícolas e a fruta, cereais pouco refinados, as leguminosas, entre outros.

O desperdício de alimentos gera cerca 6% das emissões globais de gases de efeito estufa. Para produzir esses alimentos desperdiçados foram utilizados recursos naturais como terra, água, energia e fertilizantes e, tudo isso tem impacto ambiental. Em última instância, não foi cumprido o verdadeiro propósito da produção de alimentos: garantir a segurança alimentar das populações. Verifique no separador de combate ao desperdício alimentar como pode combater e reduzir o desperdício alimentar na sua casa.

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